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“Palavrões da Ciência”

“Did we learn something from the Pedrogão wildfires?”

Episode of “Palavras da Ciência” podcast about fire and wildfires with researcher Conceição Colaço.

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About the Podcast

Palavrões da Ciência is a Portuguese podcast about science and language. Hosted by Marco Neves and Cristina Soares, the show invites experts to explore how scientific ideas are shared, misunderstood, or lost in translation. The goal is to make science clearer and easier to understand for everyone.

About this episode

To explore the subject of fire and wildfires, the episode features researcher Conceição Colaço, from CEABN at the School of Agriculture (Instituto Superior de Agronomia), University of Lisbon.

The conversation focuses on the 2017 wildfires in Pedrógão Grande, one of the deadliest in Portugal’s history. The episode discusses the difference between fire and wildfire, explains what a controlled burn is and why it should not be feared. It also highlights the role fire has played in human evolution and examines the reasons behind the frequent wildfires in Portugal.

Transcription

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O podcast “Palavrões da Ciência” recebeu Conceição Colaço, engenheira florestal e investigadora, para discutir o tema do fogo e dos incêndios. Os locutores destacaram a sua experiência em “florestas, incêndios florestais, educação ambiental e comunicação de risco”.

A palavra “fogo”

Segundo Marco Neves, o termo tem origem do latim “focos”, e já na altura também era utilizado com o sentido de “lar”:

“Era uma espécie de símbolo de um lar, de ter a lareira com o fogo, e por isso contavam-se as casas com esta palavra”.

E a diferença entre “fogo” e “incêndio”?

“Se nós olharmos para o fogo, o fogo é o lar, é a lareira, é aquele lume. Portanto, é algo que nós, em termos químicos, é uma combustão. E, portanto, é uma combustão que eu sei exatamente quando é que ela começa e quando é que ela acaba, tanto no espaço, como no tempo. Isto é, se eu fizer uma lareira, eu sei que ela vai queimar só ali, não vai sair dali e é controlada.”

“O incêndio é exatamente isto, mas descontrolado: eu não sei quando é que ela começa, nem quando é que ela acaba. Também não sei no espaço se é o começar aqui. Por exemplo, imagina, nós estamos aqui no meio de Lisboa. Se começar aqui numa casa, eu não sei se ele não vai passar para as outras casas. Portanto, ele vai progredir. Portanto, ele está descontrolado. Esta é a grande diferença, o fogo controlado no tempo e no espaço, incêndio descontrolado.

E um “fogo controlado”?

Pegando nesta questão do fogo descontrolado, o que é que é um fogo controlado e por que que as pessoas, de um modo geral, o temem tanto e têm tanta desconfiança?

O fogo controlado é uma técnica. Portanto, temos o fogo e o incêndio, e depois podemos ter uma técnica que pode ser feita por técnicos florestais, por bombeiros, ou seja, por pessoas certificadas e que percebem de fogo, percebem do seu comportamento, o comportamento do fogo. E o que eles fazem é normalmente queimam com o objetivo de reduzir a quantidade de vegetação que pode, por ser muito grande, pode ver a provocar grandes incêndios.

Isto é, eu vou precisar de reduzir a quantidade de vegetação que existe no terreno, para que, se existir um incêndio, quando chega ali, o incêndio vai mudar o seu comportamento. Portanto, vai ter menos alimento, ao ter menos alimento, vai baixar a sua intensidade e temos duas oportunidades, oportunidade para os bombeiros combaterem ou para ele próprio se extinguir. Portanto, esse é o fogo controlado, é um fogo técnico que serve para, ou para a prevenção de incêndios, ou combater.

Para combater o próprio incêndio? Não, isso é o contrafogo.

O fogo controlado serve, por exemplo, para gerir o habitat. Isto é, eu tenho uma zona que, por exemplo, quero caçar ou tenho uma zona que precise ter coelhos para alimentar o lice, por exemplo. Então, o coelho precisa de espaços abertos. E se eu tiver muito mato, o coelho está ali protegido, mas depois não consegue, não encontra alimento, anda ali, não tem o seu próprio habitat. Então, se eu utilizar o fogo controlado, posso gerir esse habitat.

E o que é o “Contrafogo”?

O contra-fogo é lutar contra o fogo, contra o incêndio. O incêndio e o fogo são como seres vivos, que precisam de alimento. Quandohá um incêndio que é muito forte, não podemos combater na frente de fogo, é preciso retirar o alimento. Mas para eu retirar o alimento, eu não posso andar a cortar árvores ou a cortar a vegetação em frente ao fogo, porque ele é muito quente, pode atingir temperaturas de 1000 ou 2000 graus. Então, o que é que eu faço? Eu vou utilizar o contra fogo, que é fazer um fogo controlado, que vai eliminar o alimento do incêndio que aí vem.

Em Portugal é uma técnica “mais ou menos” utilizada em Portugal, pois “os técnicos que são credenciados para fazer fogo controlado têm que ter ainda mais formação para poder usar o contrafogo. O Contrafogo é uma técnica que, se não for bem aplicada, provoca um incêndio ainda maior, que não é o objetivo. Portanto, é preciso mesmo ter muita formação e ser muito forte no comportamento do fogo.

Sobre o medo e desconfiança ao Fogo Controlado

Pode ser atribuido ao afastamento do campo e das práticas tradicionais.

O fogo em si fazia muito parte das práticas tradicionais, ou fazíamos a fogueira, ou queimávamos nos restos agrícolas e estava muito presente. Neste momento nós somos todos mais ou menos urbanos.”

Então o fogo é algo que as pessoas têm medo porque pensam que ele se vai descontrolar sem mais ou menos.

Mas o fogo, na verdade, faz parte da natureza. É um elemento que é tão importante quanto à água quanto ao oxigênio. Faz parte de todo o nosso planeta, quer dizer, desde que existe oxigênio no planeta e vegetação, nós temos fogo.

O fogo faz parte da nossa natureza

“Nós somos como somos porque conseguimos controlar o fogo.”

Há milhões de anos atrás, os hominídios começaram a perceber que quando tinhamos os relâmpagos ou os vulcões, as aplantas queimavam mas os outros seres vivos afastavam-se.

Ao mesmo tempo, como limpava o terreno, eles podiam ir avançando e caçando. Quando conseguem controlar o fogo, eles passaram a ser a sociedade como somos, porque juntavam-se à volta de uma fogueira e começamos a ter a socialização.

O fogo também influenciou a forma como começamos a cozinhar os alimentos e a própria biologia. Deixamos de necessitar de uma mandíbula tão forte por já não comermos os alimentos tão duros, criando espaço na nossa caixa craniana para o cérebro se desenvolver,

para a energia que vamos gastando para pensar mais facilmente nós a recolhemos com os alimentos.

Estamos a ter a inteligência para depois criar também as cidades e depois ir para as cidades e começar a ter vido do fogo. Exatamente, exatamente.

De onde vem a polémica do fogo controlado?

Cristina Soares questionou sobre o medo e a desconfiança em relação ao fogo controlado, e Conceição Colaço atribuiu-o ao afastamento das pessoas do campo e das práticas tradicionais.

A conversa evoluiu para a importância do fogo na natureza e na história da humanidade. Conceição Colaço enfatizou que o fogo é tão importante quanto a água e o oxigénio, e que o controlo do fogo permitiu o desenvolvimento da sociedade. Marco Neves questionou a origem da polémica em torno do fogo controlado, e Conceição Colaço mencionou o medo do descontrole, as alterações climáticas e a libertação de CO2 e fumo.

Conceição Colaçom defendeu que o fogo controlado, quando bem aplicado, pode ter impactos positivos, reduzindo os impactos dos incêndios florestais. Marco Neves introduziu a expressão “gestão integrada do fogo”, e Conceição Colaço explicou que se trata de uma abordagem holística que integra prevenção, preparação, combate e recuperação. Conceição Colaço mencionou as queimadas como um exemplo de fogo tradicional mal visto devido ao fumo, mas que podem ser uma técnica de gestão do território se forem feitas corretamente. Marco Neves comentou sobre a “soberba urbana” em relação às práticas rurais.

Cristina Soares questionou por que Portugal tem tantos incêndios. Conceição Colaço explicou que Portugal está no Mediterrâneo, com invernos chuvosos e verões quentes e secos, o que favorece o crescimento da vegetação e a sua posterior combustão. Conceição Colaço também mencionou que a maioria das ignições são de origem humana, mas nem sempre intencionais. Marco Neves pediu para repetir a ideia de que “origem humana não quer dizer que é incendiarismo”.

Marco Neves questionou o que falha para que Portugal continue a ter incêndios. Conceição Colaço mencionou a coordenação do combate e a educação como áreas de possível falha. Conceição Colaço destacou que Portugal tem avançado muito na gestão de incêndios, com o Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios. Conceição Colaço mencionou o programa “Aldeia Segura, Pessoa Segura” como uma medida de preparação da população para os incêndios.

Marco Neves questionou se os incêndios têm agora uma dimensão maior, e Conceição Colaço confirmou que, embora representem apenas 1% dos incêndios, podem corresponder a 70% da área ardida. Conceição Colaço explicou que o despovoamento e o envelhecimento da população contribuem para o aumento do “alimento” para os incêndios. Conceição Colaço mencionou o vento de leste como um fator que agrava os incêndios, trazendo secura.

Cristina Soares questionou se algumas árvores ardem mais do que outras. Conceição Colaço explicou que as árvores com óleos e resinas, como o eucalipto e o pinheiro, são mais inflamáveis, mas que as árvores têm adaptações para se protegerem do fogo. Marco Neves questionou sobre outros mitos dos incêndios, e Conceição Colaço mencionou a ideia de que tudo arde nos perímetros ardidos, quando na verdade existem ilhas verdes.

Cristina Soares introduziu o termo “rescaldo”, e Conceição Colaço explicou que se trata de garantir que não há combustão subterrânea após a passagem do incêndio, para evitar o “riacendimento”. Conceição Colaçom explicou que a matéria orgânica subterrânea pode arder, dando origem a incêndios “zombie”.

No final, Conceição Colaço recomendou livros sobre o tema, incluindo os “Cadernos de Campo” sobre incêndios, o livro “Florestas Públicas” de Francisco Astorrego e “A História Química de Uma Vela” de Michael Faraday. Conceição Colaço enfatizou a importância de entender o fogo e de “ser diplomata” com ele, em vez de estar sempre em combate.

Distinção entre Fogo e Incêndio e Introdução ao Fogo Controlado

Conceição Colaço explicou que fogo é uma combustão controlada no tempo e no espaço, como uma lareira, enquanto incêndio é descontrolado, sem saber quando e onde termina. Marco Neves questionou se usar “fogo” para um incêndio é impreciso, e Conceição respondeu que incêndio é um fogo descontrolado. Cristina Soares introduziu o fogo controlado, questionando o que é e por que há desconfiança.

Fogo Controlado vs. Contrafogo e Medos Associados

Conceição Colaço explicou que o fogo controlado é uma técnica usada por técnicos certificados para reduzir a vegetação e prevenir grandes incêndios ou gerir habitats. Diferenciou-o do contrafogo, usado para combater incêndios removendo o “alimento”. Marco Neves perguntou sobre o uso em Portugal, e Conceição respondeu que requer formação específica. Cristina Soares questionou sobre o medo do fogo controlado, que Conceição atribuiu ao afastamento das pessoas do campo.

Importância do Fogo na Natureza e História Humana

Conceição Colaço enfatizou que o fogo é essencial como água e oxigénio, e o controlo do fogo impulsionou a sociedade. Marco Neves questionou a origem da polémica do fogo controlado, e Conceição Colaço mencionou o medo do descontrole, alterações climáticas, CO2 e fumo.

Impactos do Fogo Controlado e Gestão Integrada

Conceição Colaço defendeu que o fogo controlado, bem aplicado, pode reduzir impactos de incêndios florestais. Marco Neves introduziu “gestão integrada do fogo”, que Conceição Colaço explicou como uma abordagem holística (prevenção, preparação, combate e recuperação). Conceição Colaço mencionou queimadas como fogo tradicional mal visto pelo fumo, mas que podem gerir o território corretamente. Marco Neves comentou sobre a “soberba urbana” em relação às práticas rurais.

Causas dos Incêndios em Portugal

Cristina Soares questionou por que Portugal tem tantos incêndios. Conceição Colaço explicou que Portugal está no Mediterrâneo, com invernos chuvosos e verões quentes e secos, o que favorece o crescimento da vegetação e a sua posterior combustão. Conceição Colaço também mencionou que a maioria das ignições são de origem humana, mas nem sempre intencionais. Marco Neves pediu para repetir a ideia de que “origem humana não quer dizer que é incendiarismo” .

Avanços e Falhas na Gestão de Incêndios em Portugal

Marco Neves questionou o que falha para que Portugal continue a ter incêndios. Conceição Colaço mencionou a coordenação do combate e a educação como áreas de possível falha. Conceição Colaço destacou que Portugal tem avançado muito na gestão de incêndios, com o Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios. Conceição Colaço mencionou o programa “Aldeia Segura, Pessoa Segura” como uma medida de preparação da população para os incêndios.

Dimensão dos Incêndios e Fatores Contribuintes

Marco Neves questionou se os incêndios têm agora uma dimensão maior, e Conceição Colaço confirmou que, embora representem apenas 1% dos incêndios, podem corresponder a 70% da área ardida. Conceição Colaço explicou que o despovoamento e o envelhecimento da população contribuem para o aumento do “alimento” para os incêndios. Conceição Colaço mencionou o vento de leste como um fator que agrava os incêndios, trazendo secura.

Inflamabilidade das Árvores e Mitos dos Incêndios

Cristina Soares questionou se algumas árvores ardem mais do que outras. Conceição Colaço explicou que as árvores com óleos e resinas, como o eucalipto e o pinheiro, são mais inflamáveis, mas que as árvores têm adaptações para se protegerem do fogo. Marco Neves questionou sobre outros mitos dos incêndios, e Conceição Colaço mencionou a ideia de que tudo arde nos perímetros ardidos, quando na verdade existem ilhas verdes.

Rescaldo e Incêndios Subterrâneos

Cristina Soares introduziu o termo “rescaldo”, e Conceição Colaço explicou que se trata de garantir que não há combustão subterrânea após a passagem do incêndio, para evitar o “riacendimento”. Conceição Colaçom explicou que a matéria orgânica subterrânea pode arder, dando origem a incêndios “zombie”.

Recomendações de Livros e Mensagem Final

No final, Conceição Colaço recomendou livros sobre o tema, incluindo os “Cadernos de Campo” sobre incêndios, o livro “Florestas Públicas” de Francisco Astorrego e “A História Química de Uma Vela” de Michael Faraday. Conceição Colaçom enfatizou a importância de entender o fogo e de “ser diplomata” com ele, em vez de estar sempre em combate.

Conceição Colaço mencionou que os “Cadernos de Campo” sobre incêndios estão a ser traduzidos para inglês.